Quão clichê e absurdamente meloso isso poderia ser?
Sério mesmo? Justo eu, a típica garota tímida, por trás de uma franja longa demais para ser usada reta e curta demais para ser apenas outra camada do cabelo; óculos escondendo olhos grandes e escuros... Enfim, típica demais. Apaixonada.
E como se já não fosse difícil o suficiente se apaixonar quando se é tímida, ele é nada mais, nada menos que o também típico garoto popular. É, entendeu onde ao parte clichê se encaixa aqui?
Ele é mais alto que eu - algo não lá muito difícil -, sua pele é branca, mas um pouco bronzeada de sol, não é magro, mas não é forte, apenas o suficiente para que seus braços saltem aos olhos quando ele os cruza na frente do peito. Seu cabelo de um castanho quase preto, curto e arrumado de forma descuidada.
Não poderia ser algo mais errado e ao mesmo tempo mais perfeito. Porque justo eu, a garota que quase nunca fala com ninguém, estaria apaixonada justamente pelo garoto que menos conheço em toda a sala de aula. Não que meu conhecimento no quesito garotos seja amplo...
Na aula mais chata do dia, a de matemática, em que o professor não se cansa de falar sobre funções e gráficos, a única coisa que consigo pensar é em como seus braços são perfeitos, mas seriam mais ainda se estivem ao meu redor. E para a minha surpresa, eis que ninguém menos do que ele se levanta para jogar o que quer que seja na lata de lixo.
Por favor, passe longe da minha mesa! Por favor, passe longe da minha... Droga! E agora? O que eu faço? Disfarço? Olho descaradamente? Sorrio? Viro a cara e a afundo nos livros?
Droga de novo! Por que ele tinha que olhar justo na minha direção e me pegar basicamente derretendo do meu lugar na segunda fila? Por que?!?!
Seja forte! É apenas mais um garoto comum, em um dia comum. Com um corpo fora do comum. E, ah... Que visão! Mais que porcaria! Não consigo me imaginar mais boba e sem graça do que nesse momento!
Ai. Meu. Deus! Ele está sorrindo para mim! O que eu faço? O QUE EU FAÇO? Sorria de volta, sua idiota! Isso foi mais para uma careta meio retorcida. Agora ele pensa que eu tenho problemas mentais, faciais ou quem sabe, os dois.
E a aula continua, em sua interminável chatice costumeira. Pego a caneta dentro do estojo e começo a mordiscar a ponta da tampa. Estou nervosa. Agora que eu não consigo prestar atenção nessa aula mesmo. O que esse gráfico no quadro tem a ver com esse resultado ali? Estou definitivamente perdida! Só me resta anotar o que o professor passou no quadro e rezar para conseguir aprender isso sozinha.
Desisto de copiar a matéria quando noto que estou tremendo demais para segurar a caneta com firmeza o suficiente. Bem nesse momento uma bolinha de papel bate na beirada da mesa e para ao lado da minha mochila no chão. De onde isso veio?
Viro para trás e o vejo. Ele me vê olhando em sua direção e me dá uma piscadela. Então foi de lá que a bolinha veio...
Decido apanhar o papel amassado do chão antes que o professor veja e resolva interceptá-lo. Abro-a e o que vejo me faz sorrir e perder o fôlego ao mesmo tempo:
"Você está linda hoje! :) Beijos, ele"
Não consegui deixar de me virar novamente para trás, dessa vez com um sorriso nos lábios. Ele, parecia esperar alguma reação, porque quando me virei, lá estava ele me encarando. Corei e continuei sorrindo, recebi um sorriso e outra piscadela de volta.
Pronto, se minha concentração se resumia a praticamente nula, agora não havia restado nada. Mas, para minha sorte, restavam apenas mais cinco minutos de tortura matemática. Apenas cinco minutos para me preparar para o que quer que ele fosse fazer a seguir.
Finalmente o sinal que nos liberava para o final de semana tocou. Livre finalmente, mas eu não me importaria de ter mais alguns minutos para me preparar psicologicamente.
Guardei meus cadernos e livros bem vagarosamente, e quando me dei conta, restavam apenas um grupo isolado de alunos, eu e ele, entre mim e os retardatários que ficaram conversando. Assim que o notei, dediquei uma atenção mais do que necessária a fechar o zíper do estojo de lápis e o colocar dentro da bolsa.
Pela primeira vez desde que o conheci, ele parece nervoso. Não, nervoso não, hesitante.
Quando fechei o zíper da bolsa, não havia muito o que fazer a não ser seguir em direção a porta. Nesse momento ele tomou sua decisão, enquanto os outros alunos saiam, ele se juntou a mim, com passos bem vagarosos.
- Eu disse a verdade quando joguei o papel para você. - começou, enquanto tirava do meu rosto uma mecha da trança que se soltou.
- Sério? Obrigada. - corando, olhei para baixo. O que mais eu poderia dizer?
- Então... Eu percebi que você estava lendo um livro que sairá o filme agora. Que tal se fossemos assistir nesse fim de semana? - ele me convidou.
- Ah, claro. - e dizendo isso abri minha bolsa, a procura de uma caneta - Esse é meu número, me mande uma mensagem para combinarmos.
Peguei sua mão para escrever o número. Ela era quente e macia.
Não havia mais nada a ser dito, então eu tomei a decisão e disse:
- Tchau, espero a sua mensagem.
- Tchau.
Mal escutei a despedida e me dirigi à porta. Não sei de onde veio essa coragem toda, mas ela tinha acabado assim que dei o primeiro passo para trás. Sai a passos apressados pelo corredor. Seja o que for que tenha acontecido naquela sala, era uma oportunidade com o garoto dos meus sonhos. E não a deixaria escapar.
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